20/08/2017

O QUE SOBRA DAS SOBRAS


- foto: Twitter - 

Meu coração bate confuso enquanto tomo coragem para prosseguir. O Alvo parece-me ser tão simples, mas tão difícil. O caminho está tão embaçado, ou minha visão que está. Eu olho ao redor e todos parecem andar, mas meu coração não consegue bater. Parece que está falecendo, parece que meu sangue está tão fraco.

Paro. Olho ao redor, mais uma vez. Gritos e soluços. As pessoas correm. Voam. Andam. Param.
 
O Alvo. O Alvo. O Alvo, repito para eu mesma. Não posso parar, não posso me esquecer. Coração, não pare agora. Coloco a mão sobre o peito. Tenho esperanças. Ou a esperança me tem? O que mais eu tenho? As pessoas correm. Eu as olho. Parada. Calma. Confusa.

Fome.  Eu tenho fome. A fome evitada. Não pense nela agora, digo para eu mesma, quase em choro. Não posso. Meu corpo grita. Minha alma soluça. Meu coração repreende. Meus pensamentos se destorcem em linhas abstratas. O que eu sinto? O que eu sou?

O pão.

A direita, o pão brilha, reluz. Parece ser tão sublime. Meu estomago implora aos meus braços para que pegue, meu cérebro envia estímulos ao corpo. Estou quase a devorar. O Alvo está embaçado enquanto o pão me atrai a sua aparente beleza. Eu não preciso. Mas eu quero. Meu corpo ri só de pensar na fatia que está por vir, minha alma chora por aquilo ser tão superficial.

Não penso. Como. Como eu queria. Mas eu não precisava. Agora minha alma não consegue mais suportar a dor. Meu corpo envia estímulos por toda a carcaça restante. Não se esqueça. Choro e sinto a dor da culpa me invadir. Mas eu tinha fome. Sinto as migalhas descerem por todo o corpo. Migalhas. Eu me dei a migalhas. Logo a sensação do prazer vai-se e a fome volta.

O pão. O Alvo.

Como que em um desperto total, a visão começou a voltar ao normal. Enxerguei pessoas rindo, falando, andando, correndo, voando. Não, eu não pude. Olhe para baixo, o vento me soprou. O sangue. Uma longa jornada percorrida de sangue está logo abaixo dos meus pés. Corro para tentar chegar ao seu fim. Eu não pude. Chorava enquanto o vento bagunçava meus cabelos. As pessoas ao redor pareciam rir, encantadas com o que viam ao fim do caminho. Elas pareciam felizes e saciadas. Eu não pude. Desesperada olhei ao fim do caminho. Longe, longe eu vi. O Alvo. Me dei a migalhas enquanto o Alvo me esperava.

“Mas vocês não sentem fome?”, gritei entre soluços aos que estavam ao meu redor. “Como estão saciados se nada comeram? Eu ainda estou com tanta fome.”, o vento parecia me ouvir. “Nos saciamos com o Pão.”, alguém gritou ao fundo. E então, apontou para frente. Eu via agora. O pão era migalha. O Alvo é o Pão. 

6 comentários:

  1. para de me dar tiro com o quão boa suas palavras são, nossa.
    (não para não, brinks).

    letícia, obrigado por prestar atenção e descrever como descreve. suas palavras fazem sentido pro meu cérebro confuso que pode parar de funcionar direito amanhã. suas palavras com Ele sempre me funcionam.

    um abração.

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    1. mano, eu escrevo com Ele do meu lado (ou melhor, comigo. só empresto as mãos, mesmo) e tu lê com Ele do teu lado (ou melhor, contigo. ai dentro.)
      um trio é um trio, né mores. (eu, tu e Ele).

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    2. MORTA
      (aquela referência marota de NÃO MAIS EU)

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  2. (amo sua atenção à caminhada).

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  3. Mas assim é o ser humano, e sabe, Deus nos compreende! Por isso, Ele está sempre atento aos nossos passos, e está sempre disposto a nos exortar e nos perdoar. O Alvo (o pão, tudo que precisamos para a nossa vida) está a nossa frente, está em Deus, mas realmente, complicamos a chegada com os nossos erros e insistências vãs. Mais uma vez Letícia eu amei a sua forma poética e verdadeira de escrever! Um texto sincero que eu amei ler :) seu blog é um amor!

    Parabéns, beijos!
    Senhorita Deise

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